Dividir dificuldades com amigos é quase tomá-las pra si!
Há algum tempo escrevi o texto seguinte em um momento de revolta total pela perda do meu pai. Revolta essa que me abriu os olhos do coração e me fez enxergar de outra forma esse afastamento físico.
Leiam ...
"Canso-me com tanta lamentação.
Por trás de todo não existe um sim.
Tem que ter, até no nada existe tudo, já que tudo que se diz nada é um completo, é amplo. Nada é muita coisa. Enquanto tudo também tem um pouco de nada.
Complexo não?
Conversa de louco. Será que tô ficando doida? Ou já fiquei e não me avisaram...
Bom, um pouco de doidice existe em mim definitivamente, e eu gosto disso!
Ando querendo me entregar a vida, dar-lhe tudo que tenho, e pedir tudo que quero. E eu quero muito!
A vida me lançou um "não": pesado, denso, arrogante e definitivo. Ê vida que dá susto, que arregala os olhos da tristeza e abre a temporada de saudade. Esse "nãozão" que recebi, foi a ida do meu pai pro lado de lá, pro além, pra cia dos espíritos de luz. Ele foi, porque tava muito difícil carregar aquele corpo tão pequeno, mas que se via muito pesado pra seguir adiante.
Nos primeiros minutos, dias, meses senti uma raiva de Deus, que nem sei esmiuçar. Odiei esse cara ai, gritei, esperneei, afrontei, briguei com ele armada de todas as minhas garras de cria órfã. Confesso que duvidei se ele ainda lembrava de mim, e do quanto meu pai fora meu exemplo, meu caminho, meu rumo. O quanto eu me iludi dizendo: não, ele ainda agüenta muito mais tempo. Ele pode mais. Eu quero mais.
Mas, eu me enganei profundamente. O tempo faz muitas coisas boas, mas às vezes corre rápido demais, que não se alcança.
Agora, tudo que eu ouvi daquele homem, o pai da cria desgarrada, ecoa na minha cabeça. Eu luto em lembrar partes de histórias que eu deveria ter escrito, gravado, ou pedido pra contar umas milhões de vezes a mais pra eu ter tudo bem fresquinho aqui, e ficar passando o filme na cabeça, pra ter tudo claro na minha mente.
Não tem mais jeito. Agora, meu inconsciente que comece a trabalhar e vá me orientando com o que armazenei dele, com tudo que suguei, tudo que roubei, tudo que consegui a tempo.
Ele anda por perto que eu sei. Ele dá uns abracinhos, uns beijos, calorosos demais. Ele não era muito de toque, era mais de voz. Acho que o respeito por sermos mulheres era tanto, que a palavra tinha mais força ali dentro.
Ele ainda sopra no meu ouvido algumas dicas arquitetônicas, que delicadamente penso: “Poxa pai, como é mesmo essa madeira aqui do telhado? Precisava de você aqui pra me ajudar!”. E parece que ele vem, porque o tempo vai passando, eu fico ali olhando pro papel, aguço meus ouvidos espirituais, e de repente... a resposta.
Ô maravilha! Você é o máximo!
Até assim me ajuda.
E Deus, então, acho que perdoei.
Sou atrevida mesmo. Fiquei brava de verdade com ele.
Mas agora acho que por trás disso vieram tantos “sim”, que não posso ser tão egoísta.
Minha mãe foi viajar. Finalmente, depois de 20 anos sem ver o mar, que ela tanto adora.
Isso não seria uma afirmativa de que a vida ta seguindo seu curso?
É, não tenho dúvidas que é!
A vida ensina, o coração logo abranda e eu sigo o fluxo de novo, ou vou contra ele e sigo meu coração."